quinta-feira, 31 de maio de 2012

Levados pelo som


Para Santo Agostinho, um caminho para o interior das pessoas é o canto. Ele acha que cantar no leva ao recôndito mais interno da nossa alma, no qual Deus nos habita. Agostinho desenvolveu essa teologia do canto na apresentação do Sl 42,5. No salmo está escrito: "O meu coração transborda quando penso como me mudei para a casa  de Deus, num grupo festivo, com júbilo e agradecimento, com uma multidão em festa". Para Agostinho, conseguimos chegar ao mistério mais íntimo de Deus, à casa secreta de Deus em nosso coração ( secretum domus Dei ) pelo canto de júbilo. Não é só o nosso próprio canto que nos leva para o mais íntimo da nossa alma, mas também o canto que é ouvido por nós. Quando nós seres humanos ouvimos aqueles que cantam do fundo do coração e se entregam totalmente ao canto, sentimo-nos com a corça que, atraída pelas fontes de água, toma o caminho em direção a Deus. Levados pela alegria esquecemos todo o mundo exterior e nos viramos para o interior. Sim, somos formalmente atraídos para dentro ( in interiora raperetur ) onde entramos em sintonia com nosso verdadeiro ser.

( Anselm Grün )


quarta-feira, 30 de maio de 2012

As Virtudes


"Ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo,  puro, amável, tudo o que há de louvável, honroso, virtuoso ou de qualquer modo mereça louvor" ( Fl 4,8 )
A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si. Com todas as suas forças sensíveis e espirituais, a pessoa virtuosa tende   ao  bem, 
procura-o e escolhe-o na prática.

" O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus."

( CIC 1803 )

terça-feira, 29 de maio de 2012

Modéstia


" A falta de modéstia é falta de senso comum."
( A.Pope )

" O gênio é sempre modesto, porque a modéstia é o pudor da força".
( Paulo Mantegazza )

" São excelentes todas as modalidades de modéstia."
( Jaime Balmes )

A modéstia  é  um  escudo  contra o olhar do arrogante. Você não é aquilo que fala, mas aquilo que a modéstia revela.Uma ostra que não é ferida não produz sua pérola. Ela é uma ferida curada, produto da dor, resultado da entrada de uma substância estranha em seu interior, com um grão de areia. A concha possui uma substância interna chamada nácar. Quando um grão de areia penetra as células do nácar, estas começam a trabalhar e a cobrem com camadas para proteger seu corpo.

Como resultado uma linda pérola é formada. Uma ostra não machucada não produz a pérola que é uma ferida cicatrizada. Cubra suas mágoas com várias camadas de amor, de perdão. A maioria das pessoas preocupa-se em cultivar ressentimentos, deixando as feridas abertas, alimentando-as com pobres sentimentos. São como ostras vazias e, porque feridas, não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor.

( Antônio Francisco Bohn, Mensagens de vida )

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os desejos do Espírito


A economia da lei e da graça desvia o coração dos homens da ambição e da inveja e o inicia no desejo do Sumo Bem; instrui-o nos desejos do Espírito Santo, que sacia o coração do homem.
O Deus das promessas desde sempre advertiu o homem contra a sedução daquilo que, desde as origens, aparece como "bom ao apetite, agradável aos olhos, desejável para adquirir ciência" ( cf. Gn 3,6 ).
A lei confiada a Israel jamais bastou para justificar aqueles que  lhe eram sujeitos; antes, tornou-se mesmo o instrumento da "cobiça". A inadequação entre o querer e o fazer indica o conflito entre a lei de Deus, que é a "lei da razão", e outra lei, "que me acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros" ( Rm 7,23 ).
"Agora, porém, independentemente da Lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo em favor de todos os que crêem" ( Rm 3,21-22 ). Por isso os fiéis de Cristo "crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências" ( Gl 5,24 ); eles são conduzidos pelo Espírito e seguem os desejos do Espírito.

( CIC 2541-2543 )

terça-feira, 15 de maio de 2012

Há um poço em algum lugar


Aqui estamos seguindo os passos do aviador perdido no meio do deserto, à procura de água. Ele diz ao seu Pequeno Príncipe:
" No silêncio do deserto, não se vê nada, não se escuta nada. No entanto, o silêncio faz perceber alguma coisa".
E o menino responde:
" O que torna bonito o deserto, é que ele esconde um poço em algum lugar...Eu tenho sede, e você também".
A certa altura, o piloto carrega nos braços o garoto já meio adormecido. E pensa:
Quando eu era pequeno, as lendas diziam que a minha casa tinha um tesouro escondido... O que eu estou vendo, é uma casca apenas.Porque, o mais importante é invisível. O que me admira neste menino é a sua fidelidade a uma rosa. E essa rosa, tão diferente, brilha nele, como chama de uma lamparina. É preciso proteger as lamparinas com muito cuidado: um leve sopro pode apagá-las..."

Não há dúvida. A fidelidade, a constância, a firmeza no amor, é uma lamparina acesa que clareia os caminhos da vida, às vezes tão escuros. Todo cuidado é pouco. Qualquer vento leve pode apagar a chama dessa fidelidade, que ilumina os caminhos no deserto.
E quando o silêncio é total. Quando só areia se vê. Quando tudo é tão vazio, escuro e sem vida...
"...em algum lugar, há um poço de água fresca. É preciso procurá-lo".

Tudo isso eu penso. Mas, quem me anima é o pequenino adormecido nos meus braços, sonhando com a sua rosa distante que não o deixa esmorecer.
Tantas vezes, a água cristalina que mata a sede, o tesouro tão procurado, estão bem mais perto do que se imagina...Para encontrá-los, é preciso fazer o coração sentir. Então, até o deserto se torna mais bonito que um jardim.
Como gostava de repetir Jesus de Nazaré:
- "Onde você tem o seu tesouro, aí também está o seu coração".
Veja ! O Pequeno Príncipe andava pelo deserto, mas o seu pensamento estava longe, apreciando, amando, contemplando a sua rosa distante. Rosa que lhe fazia todo o seu íntimo palpitar:
-"Só se vê bem com o coração, porque o essencial, o mais importante, é invisível para os olhos".
E a sua palpitação lhe fazia perceber que no deserto havia um poço de água cristalina. Seus olhos meio adormecidos, janelas de uma alma inocente, brilhavam, porque o coração estava saltando dentro do peito com a lembrança de alguém...

Pai Celeste, tão distante e tão perto de mim! Você está no céu. Mas, o céu, é a alma de cada uma de suas criaturas. Então eu digo: Meu Pai, Você está aqui dentro de mim. Neste meu coração, tantas vezes tão inconstante, que não sabe enxergar além do que os meus olhos tão fracos podem ver.Faça, Pai, que eu saiba ver o essencial: sentir Você, o tesouro invisível para os meus olhos. Que eu sinta Você nos momentos fortes de entusiasmo e nas horas amargas de cansaço e desânimo. E que eu veja Você na fraqueza das minhas irmãs e irmãos. E quando tudo ao meu redor me parecer deserto, não deixe que se apague a lamparina da minha esperança. Porque estou convencido: em qualquer lugar dessas areias quentes, há sempre a marca de Você, que me conduz até a fonte no oásis das águas vivas.

( O essencial é conviver, José Dias Goulart, editora Paulus )

domingo, 6 de maio de 2012

Se eu amo, sei que estou vivo.


Existe alguém que possa temer o amor ? Que não se sinta capaz de se dar aos outros por medo de não ser amado ? É possível, segundo Bertrand Russel,que:  "temer ao amor é temer à vida e os que temem a vida já estão mais ou menos mortos".

O amor, sentimento altruísta e nobre por excelência, é o relatório do nosso projeto vital,do nosso entusiasmo pelo futuro, da nossa capacidade de relação com os outros. O amor ajuda a nos realizarmos, a reafirmar a nossa personalidade modificando-a em função das influências que recebemos por parte da pessoa amada, e a nos sentirmos eufóricos.

Em muitos casos, é certo que não estaremos de acordo com o que pensam ou com o que fazem as pessoas que amamos. Mas o amor aceita as divergências e os critérios que contrastam com os nossos. Aceitamos os seres amados com um todo, com sua personalidade íntegra, com suas virtudes e defeitos sem pretender modificá-los, inclusive sobrevalorizando muitas vezes suas qualidades enquanto subestimamos os defeitos.

O amor que os amantes se dão é oferecido e recebido com alegria e sem esforço, em proveito da  cooperação que os faz se sentirem vivos, e assim são capazes de concretizar os projetos que elaboraram em conjunto. Embora de certa forma o amor nos faça depender do outro, continuaremos sendo autônomos em vários aspectos da nossa vida, tanto no lado pessoal como no profissional. Somos interdependentes, mas a nossa vida pessoal sobrevive a isso tudo.

E essa interdependência, que é a prova de que estamos vivos e de que acreditamos em nosso futuro, pressupõe, para cada um dos amantes, a aceitação das falhas do outro, dos critérios de divergência, que obrigam a um processo de adaptação da pessoa amada. Todos somos diferentes, cada um funciona com seu próprio ritmo e, no final, as diferenças aceitas tornam-se circunstâncias complementares que se integram no projeto de vida em comum.

Mudar o caráter e o jeito de ser dos outros é praticamente impossível. Se nos amamos, temos de nos esforçarmos para nos adaptarmos ao outro. Quando discutimos dialogamos com as mentes, mas com o amor nos ligamos diretamente ao mais profundo do ser até atingir um estado de bem-estar em que temos a consciência de que estamos vivos e de que amamos a vida.

( Robert Ambers, As 10 regras de ouro do Amor )

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A ação é básica


A alegria, o riso, o movimento e a ação ajudam a avançar pelo caminho da felicidade porque barram as emoções negativas ou problemáticas que geram ansiedade e depressão e às quais milhões de pessoas estão sujeitas na atualidade. 

É importante ter plena consciência de que não são as circunstâncias externas que determinam a possibilidade de ser feliz, pois em qualquer situação, a menos que graves problemas de saúde condicionem a disposição de ânimo, é possível agir com autonomia.

Para tanto, nossa obsessão precisa se concentrar no objetivo de reforçarmos nossa personalidade, acreditar em nos mesmos e fazer o necessário para sermos felizes por decisão própria.

É preciso estar ciente de que a ação, os projetos e a atividade geram sentimentos positivos, ao passo que os negativos, como o ódio, o ciúme e o rancor, freiam nosso avanço em direção à felicidade, uma vez que nossa atitude mental determina o maior ou menor desenvolvimento de nossos sofrimentos. Como sustentam os budistas, o mundo pode parecer-nos amigo ou inimigo conforme nossos pensamentos.

A felicidade sem atividade é difícil de se atingir. Embora as atividades possam ser classificadas de diferentes maneiras, trataremos agora das satisfatórias e das insatisfatórias.
Especialmente quando são criativas, as primeiras ajudam a fortalecer a personalidade e a confiança em nós mesmos; como a felicidade é para quem a procura, não para quem fica à sua espera, essas atividades nos colocam na postura adequada para alcançá-la.

Por sua vez, as atividades insatisfatórias aquelas em que o homem é apenas uma engrenagem da mega-máquina, inserida num processo de produção fragmentário e não criativo - tendem a anular a personalidade de quem as desenvolve e a aproximá-lo da infelicidade.

Quando uma pessoa que não é feliz opina, ela valoriza sobretudo os aspectos negativos do que está analisando - vê tudo com pessimismo e acha que os problemas que se apresentam são de difícil solução. Mas viver é justamente ir resolvendo os problemas que vão surgindo, e se esperamos que eles desapareçam para só então conseguir a felicidade, nunca a conseguiremos. Quem vê tudo preto e acha que nada que nada vai dar certo deve analisar friamente o porquê de sua maneira de pensar. Com isso, provavelmente chegará à conclusão de  que a maioria dos problemas que se apresentam tem origem na sua mente, não na realidade.

As aflições e os problemas moldam nosso caráter e ampliam a nossa visão do mundo, que se torna mais objetiva. Assim, quando nos defrontamos com um problema tendemos a buscar uma solução em vez de um culpado.

( Robert Ambers, As 10 regras de ouro da Felicidade )
02/05/2012 às 22:28