Aqui estamos seguindo os passos do aviador perdido no meio do deserto, à procura de água. Ele diz ao seu Pequeno Príncipe:
" No silêncio do deserto, não se vê nada, não se escuta nada. No entanto, o silêncio faz perceber alguma coisa".
E o menino responde:
" O que torna bonito o deserto, é que ele esconde um poço em algum lugar...Eu tenho sede, e você também".
A certa altura, o piloto carrega nos braços o garoto já meio adormecido. E pensa:
Quando eu era pequeno, as lendas diziam que a minha casa tinha um tesouro escondido... O que eu estou vendo, é uma casca apenas.Porque, o mais importante é invisível. O que me admira neste menino é a sua fidelidade a uma rosa. E essa rosa, tão diferente, brilha nele, como chama de uma lamparina. É preciso proteger as lamparinas com muito cuidado: um leve sopro pode apagá-las..."
Não há dúvida. A fidelidade, a constância, a firmeza no amor, é uma lamparina acesa que clareia os caminhos da vida, às vezes tão escuros. Todo cuidado é pouco. Qualquer vento leve pode apagar a chama dessa fidelidade, que ilumina os caminhos no deserto.
E quando o silêncio é total. Quando só areia se vê. Quando tudo é tão vazio, escuro e sem vida...
"...em algum lugar, há um poço de água fresca. É preciso procurá-lo".
Tudo isso eu penso. Mas, quem me anima é o pequenino adormecido nos meus braços, sonhando com a sua rosa distante que não o deixa esmorecer.
Tantas vezes, a água cristalina que mata a sede, o tesouro tão procurado, estão bem mais perto do que se imagina...Para encontrá-los, é preciso fazer o coração sentir. Então, até o deserto se torna mais bonito que um jardim.
Como gostava de repetir Jesus de Nazaré:
- "Onde você tem o seu tesouro, aí também está o seu coração".
Veja ! O Pequeno Príncipe andava pelo deserto, mas o seu pensamento estava longe, apreciando, amando, contemplando a sua rosa distante. Rosa que lhe fazia todo o seu íntimo palpitar:
-"Só se vê bem com o coração, porque o essencial, o mais importante, é invisível para os olhos".
E a sua palpitação lhe fazia perceber que no deserto havia um poço de água cristalina. Seus olhos meio adormecidos, janelas de uma alma inocente, brilhavam, porque o coração estava saltando dentro do peito com a lembrança de alguém...
Pai Celeste, tão distante e tão perto de mim! Você está no céu. Mas, o céu, é a alma de cada uma de suas criaturas. Então eu digo: Meu Pai, Você está aqui dentro de mim. Neste meu coração, tantas vezes tão inconstante, que não sabe enxergar além do que os meus olhos tão fracos podem ver.Faça, Pai, que eu saiba ver o essencial: sentir Você, o tesouro invisível para os meus olhos. Que eu sinta Você nos momentos fortes de entusiasmo e nas horas amargas de cansaço e desânimo. E que eu veja Você na fraqueza das minhas irmãs e irmãos. E quando tudo ao meu redor me parecer deserto, não deixe que se apague a lamparina da minha esperança. Porque estou convencido: em qualquer lugar dessas areias quentes, há sempre a marca de Você, que me conduz até a fonte no oásis das águas vivas.
( O essencial é conviver, José Dias Goulart, editora Paulus )