No final das contas, a felicidade é sempre um presente que recebemos. A felicidade é sempre um milagre. Os milagres simplesmente acontecem. Eles nos pegam de surpresa. Os milagres surgem do nada. E eles sempre vêm do céu. Eles caem sobre nós. Apenas podemos abrir as mãos para que o milagre não caia no vazio.
Quanto mais insistirmos em querer a felicidade, menos a alcançaremos. Não posso planejar conscientemente à felicidade. Serei feliz quando algo der certo para mim, quando experimentar algo que me toca profundamente, quando amar. Posso, isso sim, optar pelo amor.
Muitos querem possuir a felicidade como se tivessem um direito a ela, esquecendo-se de que a felicidade só pode ser recebida como um presente. Só quando permito que me seja dada como presente, a felicidade me encherá de alegria. Se não for assim, pode até ser que eu conheça um grande número de pessoas valiosas, mas a sua proximidade não me dará alegria. Posso ter uma grande quantidade de bens, mas eles não me farão feliz.
A alegria e a surpresa são irmãs. Quando reajo com criatividade àquilo que atrapalha minhas intenções, tenho a sensação de que está bem como está.
Quem planeja a vida nos mínimos detalhes, de modo que tudo corra conforme o previsto, pode até sentir certa satisfação. Mas a verdadeira alegria surge no momento em que acontece algo imprevisível, quando um amigo nos liga depois de um longo silêncio, quando o sol passa de repente pela neblina, quando um problema se resolve por si, quando chega uma notícia boa.
Há vezes em que alegria nos surpreende. Sem que possamos interferir, ela procura alcançar-nos. O importante é que nos deixemos alcançar, que estejamos abertos para a surpresa divina.
Gostaríamos de ter uma vida bem ordenada. Por isso, precisamos de humor para aceitar a vida como ela se nos oferece: caótica, imprevisível, sempre atravessando os nossos planos.
A vida é sempre um risco. Há um risco em todo encontro, porque preciso sair de dentro de mim. Quando tomo uma decisão, nunca posso saber de antemão qual vai ser o resultado final. Mas aquele que nunca se decide, que procura sempre ter garantias, verá a vida passar. E quem se recusa a viver, verá sua alma definhando no marasmo.
Quem recua diante do desconhecido nunca estará à altura de sua própria força. Quem se limita a cumprir as normas nunca será feliz. Certamente, levará uma vida cômoda, mas tediosa.
Só o horizonte amplo nos permite ver o novo, e só essa abertura tornará livre nosso espírito.
( Anselm Grün )